sexta-feira, 12 de setembro de 2008

“O tempo da facilidade acabou! (?)”

Foi com esta frase lapidar que o sr. 1.º ministro se referiu, na passada semana, aos cerca de quarenta mil professores que não lograram alcançar colocação (leia-se contrato) para o presente ano lectivo.


É certo que o Estado não tem a obrigação estrita de contratar mais professores do que aqueles que necessita, mas não é menos certo que as necessidades de professores estão artificialmente reduzidas tendo em consideração o desiderato de uma educação de qualidade. De facto continua a verificar-se uma insuficiente oferta educativa que se traduz numa fraca cobertura a nível do pré-escolar assim como dos apoios educativos aos alunos com necessidades educativas (sem os quais nunca haverá um efectivo sucesso escolar).


Também não é menos verdade que muitos destes professores há anos que servem o sistema de forma precária sendo as principais vítimas das arbitrariedades de uma administração que mais não tem feito que precarizar o seu trabalho por forma a mantê-lo barato e pouco reivindicativo. Ou seja, entre os candidatos a contratação, muitos milhares são já docentes e vão ficar no desemprego sobretudo pela incapacidade do Ministério da Educação de determinar com rigor (ou seja: nem por excesso, nem por defeito) as necessidades exactas das escolas por forma a integra-los no sistema e nos quadros das escolas bem como através da criação de “bolsas de docentes” que servissem para apoiar alunos em dificuldades.


Ao invés, o Governo, parece actuar administrativamente no insucesso impedindo ou desmotivando qualquer tipo de retenção de alunos baixando os graus de exigência curricular e avaliativa. Trata-se de governar para as estatísticas promovendo um falso “sucesso educativo” que compromete os níveis mínimos de rigor e de exigência das aprendizagem.


É, para além disso, se quisermos, um imenso desperdício de gente qualificada, além de um drama social de quem muito investiu na sua formação e agora vê goradas as suas expectativas. Estes professores são parte significativa da nossa mão de obra qualificada e deveriam ser, muitos deles, os depositários da promessa eleitoral de Sócrates de criar os tão glosados 150.000 empregos.


Assim sendo a frase de Sócrates além de risível é contraditoriamente paradigmática: o chefe do Governo que instaurou o facilitismo entre os alunos vem, “urbi et orbi”, anunciar solenemente aos professores desempregados que, afinal, “o tempo da facilidade acabou”.


Começa a ser francamente insuportável o modo como os professores de Portugal são tratados por este Governo. Será bom que muitos o tenham presente nos actos eleitorais que se avizinham.


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PS: Na mesma ocasião da declaração do final das “facilidades” a “gaffe” dos “contentores das obras” (da autoria do mesmo chefe de Governo) que afinal servirão para albergar as turmas pode ser atribuída ao facto de Socrates ser detentor de um grau de licenciatura em engenharia que, segundo, muitos, foi obtido com uma facilidade estonteante...

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